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sexta-feira, 27 de março de 2020

O coronavírus na cultura brasileira do 8 ou 80 *-* Pequena reflexão, contribuição

Há uns bons anos atrás, eu, perante o meu próprio radicalismo tido por virtude (como é próprio dos imaturos), escutei de um professor, já idoso e por isso experiente, a seguinte frase: “Oito ou oitenta é bobagem! O ideal é o quarenta”. 
Tenho seguido com grande interesse e perplexidade a polarização da classe política neste momento tão crítico do Brasil, polarização esta que se vai estendendo, tal como uma doença louca (para não dizer burra) pelos grupos de whatsapp e toda a sociedade brasileira. Bem, a situação já está aí: a politização da pandemia por essa nossa classe política sórdida, pervertida, oportunista. Ora, não há uma situação sequer, que eles não aproveitem para o lobby pessoal e a guerra eleitoral e a fama interesseiras, enquanto a maioria dos brasileiros se tornam marionetes inconscientes neste cenário grotesco, “jurando por Deus” que estão sóbrios e conscientes do que se passa nos bastidores do poder. 
Vamos ao “oitenta”? “Tranquemos TODA a população em casa! Paremos tudo!” Já se diz que o auge da pandemia no Brasil será entre abril e maio. Bem, temos ainda, se formos felizes, longos 2 meses pela frente! Tudo parado: meus irmãos, meus primos, minha empresa, meus negócios, aquele vizinho dono do restaurante da esquina, aquela loja de roupa, aquela indústria... Ah! E por aí vai. É isso que se deve fazer: proteger a vida agora. Bela intenção. De verdade! Quem ousaria ir contra isso? Ora, o valor da vida é inestimável. No entanto, há outras coisas a serem analisadas. Pergunto: e depois de mais dois ou três meses com um país parado? Como será? Caos na economia? Com o que os pequenos e micro empresários pagarão seus funcionários? Venderão sua casa própria? Ou o governo arcará com tudo? Como? Se ele pegou um país falido, pois foi roubado até a última gota do “leite materno” de suas tetas farturentas? Como o país, essa máquina imensa, vai girar? Bem, é claro que a culpa será do presidente, porque ele não foi capaz de gerir a situação da pandemia, ainda que o Brasil esteja nadando em dinheiro. Estou sendo irônica, é claro! Talvez você diga: “Não estou nem aí para quem vai falir, pois isso não tem nada a ver comigo”. Verdade? Você é parte de um todo.
Agora, vamos ao “oito”? “Voltemos ao trabalho e deixemos que cada pessoa adquira imunidade ao vírus, pois com o tempo, quando cerca de 60 ou 70% da população já tiver pego a doença, isso passa”. Talvez você diga: “Não estou nem aí para quem morre”. Verdade? Você é parte de um todo.
Só um imbecil não percebeu que o presidente – ainda que fale de modo radical, como lhe é próprio – não disse isso nem aquilo, nem oito nem oitenta. Ele disse para protegermos TODOS aqueles que fazem parte do grupo de risco. Mas, fica o problema da “gripezinha”. O engraçado é que tenho uma amiga que foi diagnosticada, no Eisntein, como portadora do Corona vírus. Caso confirmado, ela ficou em casa, em quarentena, o que deve ser feito. Só teve um pouco de dor no corpo e leve tosse. Passou em 3 dias. Mas, não podemos chamar isso de “gripezinha”. Ou melhor, podemos. Só o presidente que não, pois ele está minimizando a pandemia. 
Corremos sérios riscos: disso tudo se espalhar, de crescer os casos da doença, de mais pessoas morrerem. Então, quarentena! Por quantas semanas forem necessárias. Depois a gente dá um jeito nos milhares de empresários falidos, nos milhões de desempregados, nos milhões que ficarão na miséria, dos inúmeros depressivos, nos vandalismos nos supermercados e lojas, no aumento horripilante de assaltos e roubos, certamente com assassinatos. Mas, tudo bem! O brasileiro já se acostumou às centenas de assassinatos semanais. Nem ligamos quando isso vira estatística. 
Temos a turma do oito: “Tudo fechado? Bolsonaro irá quebrar o Brasil!”. Temos a turma do oitenta: “Tudo aberto? Bolsonaro irá matar o Brasil!”. E ele não disse nem isso nem aquilo. Mas, nossas tvs, particularmente aquela que defende “levar ao público um jornalismo que preza pela verdade” – uma ova! – espalha suas ideologias baratas, pois teve ela mesma de soltar uma das maiores tetas onde mamou por anos.
 A complexidade da situação evoca inúmeros pontos de vistas diferentes, o pandêmico e o econômico, e aí está o grande problema: não fragmentar a realidade, não picotá-la, não rachá-la pelo radicalismo irrefletido, pois é no presente que semeamos o futuro: todo o futuro, não apenas parte dele. Como será esse futuro? Retomo a fala do meu antigo professor: “Oito ou oitenta é bobagem! O ideal é o quarenta”. Para que haja o 40, é necessário ter a capacidade de sentar e dialogar, a classe científica e a equipe econômica, os profissionais da saúde e os da economia. Mas, como? Se a nossa classe política é a eterna interesseira, oportunista, egoísta? Será que não temos inteligência suficiente para chegarmos ao ponto de equilíbrio, o quarenta? Penso que sim. Não sei os interesses escusos e obscuros permitem essa luz do diálogo inteligente.
Para encerrar, afirmando que eu nunca fui fanática por política e partidarismos, mas consigo não me esquecer da lava jato mesmo em meio ao Corona Vírus, dirijo-me ao Sr. Presidente da República: “Caro Sr. Presidente, seja corajoso e não se decepcione alimentando ilusões, mas se prepare para os ataques das mentes fragmentadas. Se houver muitas mortes, a culpa será sua. Se houver crise econômica como nunca antes vista, a culpa também será sua. Não se importe, e continue o seu trabalho, em consciência. Afinal de contas, a classe política ajudou, e muito, ao longo de muitos anos, a formar uma sociedade brasileira esquizofrênica – ou seja, dividida – sempre imatura entre o oito ou o oitenta.
Sandra Valeriote

Um comentário:

  1. Parabéns, muita lucidez nas palavras, só não enxerga quem prefere a hipocrisia, seja de um lado ou de outro da polarização.

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