Nenhum cenário desaparece da nossa mente. A consciência pode até, por
questão de preservação, não conviver com experiências vividas no passado, mas o
cenário fica guardado.
No dia-a-dia da nossa realidade, algum elemento pode despertar o que
vivemos no passado. Retornamos ao ponto, a nossa consciência reproduz a cena...
Parece que nos tornamos espectadores da nossa própria vida. Na realidade, não
estamos mais no cenário, mas nos vemos nele.
Nesse momento me vejo anos atrás, deitada em minha cama, assistindo uma
reportagem sobre o conflito na Faixa de Gaza. Vejo o repórter entrevistando uma
palestina. A moça tinha (ou tem - caso não tenha morrido ainda) cidadania
brasileira. Ela morou no Brasil (RJ). Lembro-me do repórter questionando o
porquê dela, tendo cidadania brasileira, preferir ficar naquele ambiente “de
guerra”. A moça respondeu que se ela morresse lá seria por uma causa. No Brasil
ela corria o risco de morrer por nada.
Um dos privilégios que a raça humana pode ter é o de nomear também o
sentido. Ou seja, nomeia-se até a morte. Morreu de quê? Morreu de velhice, de
câncer, de acidente, de febre amarela, de dengue, enfarte, no combate a causa
pela liberdade, pela democracia, na disputa por territórios, etc.
No Rio de Janeiro, parece que nomearam como “bala perdida” uma nova
forma de morte. Ok! Há um nome: “bala perdida”. E o sentido? Por que o excesso
dos tiros sem motivo aparente? Qual é a causa? Puxam o gatilho simplesmente por
puxar por quê?
Entristecida por saber de vidas perdidas por “bala perdida”, a consciência me trouxe o que havia guardado. Lembrei o que disse a palestina: nada. O complicado é que nada é nada! Nada não existe! Nada não se resolve.
Sandra Valeriote
Entristecida por saber de vidas perdidas por “bala perdida”, a consciência me trouxe o que havia guardado. Lembrei o que disse a palestina: nada. O complicado é que nada é nada! Nada não existe! Nada não se resolve.
Difícil! Parece que estamos com um número expressivo de pessoas adultas sem nenhum domínio do que é imaginado, fantasiado, que não foram privilegiadas com
recurso para lidar com o limite.
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