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quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Bala perdida - um nome para a morte

Nenhum cenário desaparece da nossa mente. A consciência pode até, por questão de preservação, não conviver com experiências vividas no passado, mas o cenário fica guardado.
No dia-a-dia da nossa realidade, algum elemento pode despertar o que vivemos no passado. Retornamos ao ponto, a nossa consciência reproduz a cena... Parece que nos tornamos espectadores da nossa própria vida. Na realidade, não estamos mais no cenário, mas nos vemos nele.
Nesse momento me vejo anos atrás, deitada em minha cama, assistindo uma reportagem sobre o conflito na Faixa de Gaza. Vejo o repórter entrevistando uma palestina. A moça tinha (ou tem - caso não tenha morrido ainda) cidadania brasileira. Ela morou no Brasil (RJ). Lembro-me do repórter questionando o porquê dela, tendo cidadania brasileira, preferir ficar naquele ambiente “de guerra”. A moça respondeu que se ela morresse lá seria por uma causa. No Brasil ela corria o risco de morrer por nada.
Um dos privilégios que a raça humana pode ter é o de nomear também o sentido. Ou seja, nomeia-se até a morte. Morreu de quê? Morreu de velhice, de câncer, de acidente, de febre amarela, de dengue, enfarte, no combate a causa pela liberdade, pela democracia, na disputa por territórios, etc.
No Rio de Janeiro, parece que nomearam como “bala perdida” uma nova forma de morte. Ok! Há um nome: “bala perdida”. E o sentido? Por que o excesso dos tiros sem motivo aparente? Qual é a causa? Puxam o gatilho simplesmente por puxar por quê? 
Entristecida por saber de vidas perdidas por “bala perdida”, a consciência me trouxe o que havia guardado. Lembrei o que disse a palestina: nada. O complicado é que nada é nada! Nada não existe! Nada não se resolve.
Difícil! Parece que estamos com um número expressivo de pessoas adultas sem nenhum domínio do que é imaginado, fantasiado, que não foram privilegiadas com
recurso para lidar com o limite.
Sandra Valeriote

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