Quando li o artigo nessa matéria:
("Socialismo é uma mentira", e temos de ser mais competitivos, diz cubano),
de um cubano apresentando o que é a realidade para ele em Cuba sob o regime
socialista, pensei: “Gente! Não precisavam buscar sobre o modelo tão
longe. Tenho situação semelhante para contar. Como, talvez, muitos outros
brasileiros possam ter também”.
Pois bem! Passei pela experiência de trabalhar como consultora de vendas
para uma empresa de recarga de celular. Em um dado momento, houve meu
desligamento desse trabalho. Com o desligamento tive “direitos
trabalhistas”. Entre eles o do seguro desemprego. Como na cidade que
moro não tem agência da Caixa Econômica Federal, busquei receber no ponto que
tem a Loteria Federal. Quando cheguei para receber, encontrei uma fila com
várias mulheres. Após minha chegada, outras tantas foram chegando também. A
fila estava paralisada já algum tempo, quando a moça do caixa grita: “se
tiver alguém aí que não é do Bolsa Família, por favor, vem aqui.” SÓ
EU SAÍ DA FILA. Quando chego até ela e digo que estava ali para
receber meu seguro desemprego (UM DIREITO TRABALHISTA), eis que
escuto: “estamos esperando juntar dinheiro para pagar o pessoal do Bolsa Família. Não tem como te pagar agora”. Caramba! Na minha
mente ficou eclodindo vários momentos do meu período de trabalho. Meu primeiro
pensamento, que me causou impacto, foi: "Meu Deus! não merecia
ter escutado isso!" Quem ama trabalhar entende o que vou
mencionar: o trabalho para nós é como uma brincadeira, que, obviamente, é
levado a sério. O trabalho para nós é muito valorizado. O fruto da nossa
produção reflete a satisfação, a responsabilidade pela oportunidade que
recebemos, o compromisso pela confiança depositada em nós. O trabalho nos
permite sentir o bom valor da nossa existência – não somos vegetais, mas
realizadores.
O benefício do trabalho não reflete apenas em nós, mas também na
sociedade. A interdependência que gera o trabalho é algo fantástico. Todo
trabalhador que está caminhando pelas ruas das cidades, deve gratidão pela
existência dos que tão bem sabem limpá-la. Os que limparam, deve gratidão pela
existência dos que tão bem sabem gerir seus negócios, os que sabem gerir seus
negócios, deve gratidão aos que tão bem sabem cultivar uma lavoura. E por aí
afora, numa inversão infinita, segue o elo que nos mantêm integrados, que nos mantem sentindo uma vida
além do terrível instinto que, infelizmente, também somos, como os bichos,
obrigados a carregar.
Da minha parte, acrescento, carrego no meu sangue o sangue de imigrantes
que vieram viver no Brasil para TRABALHAR. Tenho
certeza que meus descendentes não vieram para o Brasil como vorazes gafanhotos
– para explorar dessa terra, destruir, sugar tudo que fosse possível com
intenção de haver retorno a origem. Ou, muito menos acreditavam que o Brasil
era um buraco sem fundo de dinheiro para fazer a orgia que quisessem. Meus
descendentes trouxeram corpo e alma para aqui viver – nem na lembrança o
passado sobreviveu. O que valeu foi entrar em uma nova realidade, uma nova vida
nesse lugar que ofertava oportunidade. Por conhecerem a escassez, os meus
descendentes sabiam o valor do ter cuidado.
Então, algum tempo atrás um líder político, que parece transmitir
sentir-se o pai dos pobres, mas que, por algumas expressões, parece demonstrar
odiar ter sido pobre na vida – como se pobreza fosse uma doença grave-, disse
que os pobres teriam que comer só arroz, pois não poderia ter a carne devido à
crise. Pois bem! Na minha infância, houve vezes de também comer só arroz.
Algumas vezes, como complemento, tinha cebola picada, outras um ovo. Não morri
por conta disso. E, graças a Deus, também não tenho isso como lamento. O que
comia era abençoado, pois vinha do trabalho esforçado e honesto dos meus pais.
O fato de não ter havido fartura na minha infância não significa hoje que
preciso comer um boi no rolete. Agora, lamento uma mente que parece ter
guardado ódio por ter sido pobre na infância tentar destruir a beleza que
também há na vida dos que são pobres. Tive o [grande] privilégio na vida de
conhecer várias pessoas maravilhosas, cuja característica social é a da parte
pobre, que me fizeram ver a existência de valores incríveis. Bons valores que
muitos acreditam firmemente não existirem, posso dizer que existem sim, pois, vi
"com meus próprios olhos" - quem dera, para muitos ricos,
tivessem o que vi muitos pobres tendo... *Detalhe: esses pobres que me
refiro não são os filhos do tal líder político.
Pois é! Estar numa fila com várias compatriotas saudáveis aguardando
“dinheiro fácil” do governo por não terem uma vida digna devido à falta de
competência, devido a bestice de corruptos (entenda na definição
"bestice" que os quadrúpedes não tem culpa de alguns humanos se
identificarem com eles) e da falta de investimento correto na educação, saúde,
saneamento básico, infraestrutura, é muito triste. O status de pobre parece
desaparecer, dando lugar, talvez, a status de pessoas que recebem um valor em
dinheiro para votar, para servir de vitrine. É muito triste! Muito triste
mesmo!
Esse benefício, estranhamente, parece algo como um comer pelas beiradas.
Uma situação que vai acontecendo bem devagarzinho. Como o mato capituba
abafando aos poucos o capim angola. O que se vê em propagandas, em belíssimos
arquivos, parece uma realidade linda em que os pobres desse país foram salvos
pelo tal papai. Não mais precisam se humilhar trabalhando para os ricos. Parece
até um contradizer Jesus Cristo, pois a impressão é que falta pouco para esse
indivíduo falar: “CUmpanheiros, CUmpanheiras, nada de humildade mais na
vida. Vocês não sabem o que eu sei: Jesus me disse que com o passar dos
milênios a ideia D´Ele mudou. O negócio agora é viver na sombra ironizando os
conservadores, a elite. O pobre não mais precisará trabalhar para dá nada pro
César. Agora o que era de César, pode ficar na esperança que será de vocês...”
Esperança: Nossa! Como parece fácil usar esse instrumento, que tem uma
beleza singular, para favorecimento próprio. Não percam a esperança! -
injustamente, plantam a esperança na consciência coletiva. Pois é! Que fiquem
esperando, esperando, esperando, esperando... Que fiquem esperando... até morrer!... Com
essa pseudo-esperança, óbvio que jamais exigirão o que realmente lhes é do
direito ter, que podem ter. A falta não é sentida como falta, algo existe em seu
lugar: a esperança.
Sinceramente, não poder receber meu DIREITO TRABALHISTA, naquele
momento, por conta de terem que juntar dinheiro para pagar Bolsa Família, não poder receber meu DIREITO TRABALHISTA, naquele momento, tendo trabalhado para uma empresa que agiu
sempre comigo com justiça e ética em relação ao trabalho que prestava para ela, que, com certeza, deve contribuir no valor do imposto que paga com um número bem expre$$ivo, para que mulheres com aparência maravilhosa, saudáveis, tivessem a prioridade
de receber dinheiro dado de "mão beijada" pelo governo, foi como se a cantora Maysa
Monjardim estivesse cantando na minha frente: MEU MUNDO CAIU. Bem, eu aprendi a
levantar. Espero que o sofrimento não seja intenso quando essas pessoas que se
habituaram a receber dinheiro fácil, os novatos da classe pobre, tiverem a
necessidade de aprender também. Aliás, queira Deus ter para o futuro o arroz
para comerem. Refiro-me a essa questão pela preocupação de um bom tempo não ver
mais plantações de arroz na região que moro.Via inúmeras plantações na minha
região, havia máquinas de beneficiar arroz... Tudo deixou de
existir! Puderam parar de plantar. Pra quê trabalhar?
Ter um cidadão brasileiro trabalhando para receber seu salário “versus”
vinte e cinco cidadãos brasileiros buscando todo mês dinheiro enviado pelo governo. É
isso, senhores Deputados, Senadores e Presidente da República, que querem para
o Brasil? Tem certeza que é isso mesmo que querem? Serão, na História do
Brasil, os políticos eleitos marcados por esse modelo de sociedade? Será que no
apagar do sistema coronelismo, não foi apenas colocado outro nome em seu lugar?
Bem, como acompanho o trabalho dos senhores, e sempre os vejo com
celular nas mãos. Se não conseguem fazer conta de cabeça, entre as
‘bugingangas’ dos aplicativos que aparecem na tela do celular, há também a
calculadora. É só achar, digitar os números, que o resultado aparecerá. Se
olhando para o absurdo do número gasto com o Bolsa Família, perceberem que tem algo estranho, que não
querem isso, por ridicularizar vocês (não apenas perante os trabalhadores desse
país, mas também por pessoas de bom caráter e influentes em países
desenvolvidos), talvez seja interessante cobrarem explicação de cada município
(comissões, prefeitos, vereadores) sobre o motivo de tantos munícipes estarem
cadastrados nesse programa.
Concluindo, o programa Bolsa Família, da forma como vem sendo
distribuído, parece estar criando uma [enorme] desgraça para o Brasil. Desgraça
muito semelhante a que foi contada pelo cubano, que mencionei no início desse
assunto. Entenda bem, mencionei a forma “como vem sendo distribuído”. Pois,
apesar do mérito da criação desse benefício ser apontado para apenas um
indivíduo (o tal que parece se considerar o pai dos pobres), a distribuição
[descontrolada] acontece dentro dos municípios - muitos são os responsáveis por
isso. No mais, há famílias que tem realmente necessidade de receber benefício
social por não terem condições física e mental para trabalhar. Para esses, por
certo não haveria crítica dos que tem o privilégio, a oportunidade, de estar
trabalhando para o bem de si mesmo e da sociedade. Pois, é bem evidente que a
mesquinhez não é uma característica privilegiada pela sociedade brasileira.
**********
Para não deixar
dúvidas: não nasci dentro da elite, não sou conservadora, ou qualquer outra
coisa que queiram inventar para justificarem crítica ao programa Bolsa
Família. Oportunidades que tive, e fiz valer a pena na minha vida,
se deu através de muito esforço, dedicação, aceitação de perdas, etc de outras
situações que muitos não passam por pensar [ilusoriamente] que é sacrifício, ou,
que quem decide fazer como fiz, está deixando de aproveitar a vida: jamais entrega
a trabalhos e estudos realizados ao longo do meu caminho me causaram qualquer
prejuízo.
Sandra Valeriote
Sandra Valeriote
Nenhum comentário:
Postar um comentário