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sábado, 16 de abril de 2016

Uma visão crítica sobre o benefício social Bolsa Família


Quando li o artigo nessa matéria:
("Socialismo é uma mentira", e temos de ser mais competitivos, diz cubano), de um cubano apresentando o que é a realidade para ele em Cuba sob o regime socialista, pensei: “Gente! Não precisavam buscar sobre o modelo tão longe. Tenho situação semelhante para contar. Como, talvez, muitos outros brasileiros possam ter também”.
Pois bem! Passei pela experiência de trabalhar como consultora de vendas para uma empresa de recarga de celular. Em um dado momento, houve meu desligamento desse trabalho. Com o desligamento tive “direitos trabalhistas”. Entre eles o do seguro desemprego. Como na cidade que moro não tem agência da Caixa Econômica Federal, busquei receber no ponto que tem a Loteria Federal. Quando cheguei para receber, encontrei uma fila com várias mulheres. Após minha chegada, outras tantas foram chegando também. A fila estava paralisada já algum tempo, quando a moça do caixa grita: “se tiver alguém aí que não é do Bolsa Família, por favor, vem aqui.” SÓ EU SAÍ DA FILA. Quando chego até ela e digo que estava ali para receber meu seguro desemprego (UM DIREITO TRABALHISTA), eis que escuto: “estamos esperando juntar dinheiro para pagar o pessoal do Bolsa Família. Não tem como te pagar agora”. Caramba! Na minha mente ficou eclodindo vários momentos do meu período de trabalho. Meu primeiro pensamento, que me causou impacto, foi: "Meu Deus! não merecia ter escutado isso!" Quem ama trabalhar entende o que vou mencionar: o trabalho para nós é como uma brincadeira, que, obviamente, é levado a sério. O trabalho para nós é muito valorizado. O fruto da nossa produção reflete a satisfação, a responsabilidade pela oportunidade que recebemos, o compromisso pela confiança depositada em nós. O trabalho nos permite sentir o bom valor da nossa existência – não somos vegetais, mas realizadores. 
O benefício do trabalho não reflete apenas em nós, mas também na sociedade. A interdependência que gera o trabalho é algo fantástico. Todo trabalhador que está caminhando pelas ruas das cidades, deve gratidão pela existência dos que tão bem sabem limpá-la. Os que limparam, deve gratidão pela existência dos que tão bem sabem gerir seus negócios, os que sabem gerir seus negócios, deve gratidão aos que tão bem sabem cultivar uma lavoura. E por aí afora, numa inversão infinita, segue o elo que nos mantêm integrados, que nos mantem sentindo uma vida além do terrível instinto que, infelizmente, também somos, como os bichos, obrigados a carregar.
Da minha parte, acrescento, carrego no meu sangue o sangue de imigrantes que vieram viver no Brasil para TRABALHARTenho certeza que meus descendentes não vieram para o Brasil como vorazes gafanhotos – para explorar dessa terra, destruir, sugar tudo que fosse possível com intenção de haver retorno a origem. Ou, muito menos acreditavam que o Brasil era um buraco sem fundo de dinheiro para fazer a orgia que quisessem. Meus descendentes trouxeram corpo e alma para aqui viver – nem na lembrança o passado sobreviveu. O que valeu foi entrar em uma nova realidade, uma nova vida nesse lugar que ofertava oportunidade. Por conhecerem a escassez, os meus descendentes sabiam o valor do ter cuidado.
Então, algum tempo atrás um líder político, que parece transmitir sentir-se o pai dos pobres, mas que, por algumas expressões, parece demonstrar odiar ter sido pobre na vida – como se pobreza fosse uma doença grave-, disse que os pobres teriam que comer só arroz, pois não poderia ter a carne devido à crise. Pois bem! Na minha infância, houve vezes de também comer só arroz. Algumas vezes, como complemento, tinha cebola picada, outras um ovo. Não morri por conta disso. E, graças a Deus, também não tenho isso como lamento. O que comia era abençoado, pois vinha do trabalho esforçado e honesto dos meus pais. O fato de não ter havido fartura na minha infância não significa hoje que preciso comer um boi no rolete. Agora, lamento uma mente que parece ter guardado ódio por ter sido pobre na infância tentar destruir a beleza que também há na vida dos que são pobres. Tive o [grande] privilégio na vida de conhecer várias pessoas maravilhosas, cuja característica social é a da parte pobre, que me fizeram ver a existência de valores incríveis. Bons valores que muitos acreditam firmemente não existirem, posso dizer que existem sim, pois, vi "com meus próprios olhos"  - quem dera, para muitos ricos, tivessem o que vi muitos pobres tendo...  *Detalhe: esses pobres que me refiro não são os filhos do tal líder político.
Pois é! Estar numa fila com várias compatriotas saudáveis aguardando “dinheiro fácil” do governo por não terem uma vida digna devido à falta de competência, devido a bestice de corruptos (entenda na definição "bestice" que os quadrúpedes não tem culpa de alguns humanos se identificarem com eles) e da falta de investimento correto na educação, saúde, saneamento básico, infraestrutura, é muito triste. O status de pobre parece desaparecer, dando lugar, talvez, a status de pessoas que recebem um valor em dinheiro para votar, para servir de vitrine. É muito triste! Muito triste mesmo!
Esse benefício, estranhamente, parece algo como um comer pelas beiradas. Uma situação que vai acontecendo bem devagarzinho. Como o mato capituba abafando aos poucos o capim angola. O que se vê em propagandas, em belíssimos arquivos, parece uma realidade linda em que os pobres desse país foram salvos pelo tal papai. Não mais precisam se humilhar trabalhando para os ricos. Parece até um contradizer Jesus Cristo, pois a impressão é que falta pouco para esse indivíduo falar: “CUmpanheiros, CUmpanheiras, nada de humildade mais na vida. Vocês não sabem o que eu sei: Jesus me disse que com o passar dos milênios a ideia D´Ele mudou. O negócio agora é viver na sombra ironizando os conservadores, a elite. O pobre não mais precisará trabalhar para dá nada pro César. Agora o que era de César, pode ficar na esperança que será de vocês...”
Esperança: Nossa! Como parece fácil usar esse instrumento, que tem uma beleza singular, para favorecimento próprio. Não percam a esperança! - injustamente, plantam a esperança na consciência coletiva. Pois é! Que fiquem esperando, esperando, esperando, esperando... Que fiquem esperando... até morrer!... Com essa pseudo-esperança, óbvio que jamais exigirão o que realmente lhes é do direito ter, que podem ter. A falta não é sentida como falta, algo existe em seu lugar: a esperança.
Sinceramente, não poder receber meu DIREITO TRABALHISTA, naquele momento, por conta de terem que juntar dinheiro para pagar Bolsa Família, não poder receber meu DIREITO TRABALHISTA, naquele momento, tendo trabalhado para uma empresa que agiu sempre comigo com justiça e ética em relação ao trabalho que prestava para ela, que, com certeza, deve contribuir no valor do imposto que paga com um número bem expre$$ivo, para que mulheres com aparência maravilhosa, saudáveis, tivessem a prioridade de receber dinheiro dado de "mão beijada" pelo governo, foi como se a cantora Maysa Monjardim estivesse cantando na minha frente: MEU MUNDO CAIU. Bem, eu aprendi a levantar. Espero que o sofrimento não seja intenso quando essas pessoas que se habituaram a receber dinheiro fácil, os novatos da classe pobre, tiverem a necessidade de aprender também. Aliás, queira Deus ter para o futuro o arroz para comerem. Refiro-me a essa questão pela preocupação de um bom tempo não ver mais plantações de arroz na região que moro.Via inúmeras plantações na minha região, havia máquinas de beneficiar arroz... Tudo deixou de existir! Puderam parar de plantar. Pra quê trabalhar?
Ter um cidadão brasileiro trabalhando para receber seu salário “versus” vinte e cinco cidadãos brasileiros buscando todo mês dinheiro enviado pelo governo. É isso, senhores Deputados, Senadores e Presidente da República, que querem para o Brasil? Tem certeza que é isso mesmo que querem? Serão, na História do Brasil, os políticos eleitos marcados por esse modelo de sociedade? Será que no apagar do sistema coronelismo, não foi apenas colocado outro nome em seu lugar?
Bem, como acompanho o trabalho dos senhores, e sempre os vejo com celular nas mãos. Se não conseguem fazer conta de cabeça, entre as ‘bugingangas’ dos aplicativos que aparecem na tela do celular, há também a calculadora. É só achar, digitar os números, que o resultado aparecerá. Se olhando para o absurdo do número gasto com o Bolsa Família, perceberem que tem algo estranho, que não querem isso, por ridicularizar vocês (não apenas perante os trabalhadores desse país, mas também por pessoas de bom caráter e influentes em países desenvolvidos), talvez seja interessante cobrarem explicação de cada município (comissões, prefeitos, vereadores) sobre o motivo de tantos munícipes estarem cadastrados nesse programa.
Concluindo, o programa Bolsa Família, da forma como vem sendo distribuído, parece estar criando uma [enorme] desgraça para o Brasil. Desgraça muito semelhante a que foi contada pelo cubano, que mencionei no início desse assunto. Entenda bem, mencionei a forma “como vem sendo distribuído”. Pois, apesar do mérito da criação desse benefício ser apontado para apenas um indivíduo (o tal que parece se considerar o pai dos pobres), a distribuição [descontrolada] acontece dentro dos municípios - muitos são os responsáveis por isso. No mais, há famílias que tem realmente necessidade de receber benefício social por não terem condições física e mental para trabalhar. Para esses, por certo não haveria crítica dos que tem o privilégio, a oportunidade, de estar trabalhando para o bem de si mesmo e da sociedade. Pois, é bem evidente que a mesquinhez não é uma característica privilegiada pela sociedade brasileira.  
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Para não deixar dúvidas: não nasci dentro da elite, não sou conservadora, ou qualquer outra coisa que queiram inventar para justificarem crítica ao programa Bolsa Família.  Oportunidades que tive, e fiz valer a pena na minha vida, se deu através de muito esforço, dedicação, aceitação de perdas, etc de outras situações que muitos não passam por pensar [ilusoriamente] que é sacrifício, ou, que quem decide fazer como fiz, está deixando de aproveitar a vida: jamais entrega a trabalhos e estudos realizados ao longo do meu caminho me causaram qualquer prejuízo. 
Sandra Valeriote

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