Você, leitor, talvez
já tenha sentido aquela pressão da ansiedade no tempo presente que tanto
dificulta o bem viver. É aquela pressão ou abafamento no peito, aquela angústia
ou aperto no coração que muitas vezes sentimos diante de alguma situação da
qual, de um modo ou de outro, nos sentimos frágeis ou ameaçados. Mas, talvez tal
situação nem seja tão difícil assim! No entanto, ficamos meio desnorteados. E o
que surge em nós? A ansiedade. E estar com a ansiedade como elemento exclusivo para
decidir o tempo futuro pode angustiar demasiadamente à oportunidade do viver
bem.
O
medo que sentimos no momento – que talvez possa nos conduzir à fuga – significa
que a ansiedade está determinando as nossas atitudes. Assim, passa a ser da
ansiedade toda forma de elaborar e determinar o conflito. Se a ansiedade for
muito alta, é bem possível que ela determine não somente o que você sente no
momento presente, mas também o que acontecerá no futuro – o que é pior!
É
possível refletirmos sobre a ansiedade sendo algo que atua como “sinal de
perigo”. Assim, podemos separar o que é a favor ou contra a nossa
sobrevivência. Pois é! A sobrevivência nos é tão necessária que a ansiedade
costuma ser cativada a favor dela. Isso porque ela como que “sinaliza” as
possíveis perdas que poderiam nos retirar o sentido da vida. E para sobreviver
é preciso atender as demandas internas!
Caro leitor, não
entenda, aqui, o sobreviver como sendo “escapar da morte”. Não! Digo isso no
sentido de respostas positivas que vamos dando aos nossos desejos internos. Quando
atingimos essas “respostas positivas”, logicamente sentimos grande prazer.
Assim, a ansiedade é sentida quando temos medo de não atingirmos aquilo que
poderá nos dar prazer e também quando somos ameaçados por aquilo que poderá nos
trazer desprazer ou sofrimento.
Como
outros elementos característicos da nossa natureza humana, a ansiedade é um que
também não é fácil de lidar. Algumas pessoas, aliás, podem ter a ansiedade tão
fora de controle, a ponto de não conseguir sentir que está vivendo a vida.
Motivo? Estão escravos da própria ansiedade. Muitas vezes nem é possível
perceber essa forma de estar escravo, o que faz a vida parecer funcionar
normalmente. Mas quando a ansiedade não resolve e uma sensação de vazio surge,
acaba sendo necessário dar conta dessa sensação desconfortável que costuma até
resultar num grande sofrimento.
A ansiedade age,
também, em relação àquilo que passa a ter um grande significado para nós. Quer
um exemplo? Imagine se para você um carro tiver um significado afetivo: “se eu
tiver aquele carro serei importante, valorizado, amado, etc”. Justamente aí a
ansiedade entra! Como? Enquanto o carro não é comprado, ficamos escravos da
ansiedade. E o curioso é que, após ele ser comprado, o significado que ele,
antes, tinha apenas para nós, passamos a significar para o mundo externo. No
entanto, esquecemo-nos de que o carro também deteriora!
Como outros
elementos da natureza humana, também a ansiedade pode (e deve) ser refletida. Por
exemplo, se um pensamento está sendo determinado pela ansiedade, se a ansiedade
se torna manifesta em toda forma de agir, é possível que o futuro acabe sendo
confirmado como uma realidade não passível a alteração. Nesse caso, o que está
por vir, de acordo com nossa ansiedade, será pleno e imutável.
A ansiedade é sempre
pessimista! Assim, seguindo a reflexão feita, caro leitor, poderíamos nos
questionar: a ansiedade está me levando a acreditar em quê? Que não ter o que
anseio é sinal de que estarei perdendo? Perdendo o quê? Algo meu será destruído
de alguma forma? Isso é real?
Como a ansiedade nos
oferece a possibilidade de sinalizar possíveis perdas que serão complicadas
para a nossa sobrevivência, um conluio poderá ganhar o sentido de melhor forma para
estar na vida. Estar com a ansiedade acaba parecendo ser a melhor escolha por
uma suposta sensação de total segurança. É muito difícil para a nossa mente
descartar uma possibilidade gratificante como essa, pois o que a ansiedade está
nos oferecendo é o efeito do poder absoluto: eu sei tudo, eu posso tudo, eu
mando em tudo.
Para a mente que
está recebendo esse nível elevado de sensação gratificante, resolver a angústia
que a ansiedade provoca passa a ser uma tarefa secundária. Pois, acaba sendo
acentuado o sentido de possível perigo para ter que enfrentar sofrimento por uma
perda maior: a perda do poder absoluto. Dessa forma, se torna necessário não
apenas manter a angústia em segundo plano, mas também dela ser extraído algum
bem. Suportá-la? Porque não? Se a angústia que a ansiedade nos faz sentir for
resolvida, estaremos tirando a ansiedade de sua posição privilegiada. Não
podendo ter o privilégio de se manifestar livremente, a satisfação de crer no
nosso poder absoluto, que ela determina, será tomado de nós. No doce Romeu e
Julieta é possível salvar a parte do queijo. Aqui não será. Ou seja, tudo o que
a ansiedade traz com ela, será levado com ela. Para quem não consegue estar sem
a ansiedade devido à parte satisfatória que ela produz na mente pode se
perguntar: como ficar sem essa sensação que tanto me gratifica? Para responder
a essa pergunta parece ser preciso lançar outra: porque preciso dessa fantasia?
A questão interessante talvez não seja viver em função do estar livre da
ansiedade, afinal de contas, a ansiedade é parte da natureza humana, mas
compreendê-la para ficar sem os prejuízos que ela pode causar.
Paz e bem! Sandra Valeriote

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