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domingo, 17 de maio de 2015

A ansiedade como antecipação do futuro

Você, leitor, talvez já tenha sentido aquela pressão da ansiedade no tempo presente que tanto dificulta o bem viver. É aquela pressão ou abafamento no peito, aquela angústia ou aperto no coração que muitas vezes sentimos diante de alguma situação da qual, de um modo ou de outro, nos sentimos frágeis ou ameaçados. Mas, talvez tal situação nem seja tão difícil assim! No entanto, ficamos meio desnorteados. E o que surge em nós? A ansiedade. E estar com a ansiedade como elemento exclusivo para decidir o tempo futuro pode angustiar demasiadamente à oportunidade do viver bem.
O medo que sentimos no momento – que talvez possa nos conduzir à fuga – significa que a ansiedade está determinando as nossas atitudes. Assim, passa a ser da ansiedade toda forma de elaborar e determinar o conflito. Se a ansiedade for muito alta, é bem possível que ela determine não somente o que você sente no momento presente, mas também o que acontecerá no futuro – o que é pior!
É possível refletirmos sobre a ansiedade sendo algo que atua como “sinal de perigo”. Assim, podemos separar o que é a favor ou contra a nossa sobrevivência. Pois é! A sobrevivência nos é tão necessária que a ansiedade costuma ser cativada a favor dela. Isso porque ela como que “sinaliza” as possíveis perdas que poderiam nos retirar o sentido da vida. E para sobreviver é preciso atender as demandas internas!
Caro leitor, não entenda, aqui, o sobreviver como sendo “escapar da morte”. Não! Digo isso no sentido de respostas positivas que vamos dando aos nossos desejos internos. Quando atingimos essas “respostas positivas”, logicamente sentimos grande prazer. Assim, a ansiedade é sentida quando temos medo de não atingirmos aquilo que poderá nos dar prazer e também quando somos ameaçados por aquilo que poderá nos trazer desprazer ou sofrimento.
Como outros elementos característicos da nossa natureza humana, a ansiedade é um que também não é fácil de lidar. Algumas pessoas, aliás, podem ter a ansiedade tão fora de controle, a ponto de não conseguir sentir que está vivendo a vida. Motivo? Estão escravos da própria ansiedade. Muitas vezes nem é possível perceber essa forma de estar escravo, o que faz a vida parecer funcionar normalmente. Mas quando a ansiedade não resolve e uma sensação de vazio surge, acaba sendo necessário dar conta dessa sensação desconfortável que costuma até resultar num grande sofrimento.
A ansiedade age, também, em relação àquilo que passa a ter um grande significado para nós. Quer um exemplo? Imagine se para você um carro tiver um significado afetivo: “se eu tiver aquele carro serei importante, valorizado, amado, etc”. Justamente aí a ansiedade entra! Como? Enquanto o carro não é comprado, ficamos escravos da ansiedade. E o curioso é que, após ele ser comprado, o significado que ele, antes, tinha apenas para nós, passamos a significar para o mundo externo. No entanto, esquecemo-nos de que o carro também deteriora!
Como outros elementos da natureza humana, também a ansiedade pode (e deve) ser refletida. Por exemplo, se um pensamento está sendo determinado pela ansiedade, se a ansiedade se torna manifesta em toda forma de agir, é possível que o futuro acabe sendo confirmado como uma realidade não passível a alteração. Nesse caso, o que está por vir, de acordo com nossa ansiedade, será pleno e imutável.
A ansiedade é sempre pessimista! Assim, seguindo a reflexão feita, caro leitor, poderíamos nos questionar: a ansiedade está me levando a acreditar em quê? Que não ter o que anseio é sinal de que estarei perdendo? Perdendo o quê? Algo meu será destruído de alguma forma? Isso é real?
Como a ansiedade nos oferece a possibilidade de sinalizar possíveis perdas que serão complicadas para a nossa sobrevivência, um conluio poderá ganhar o sentido de melhor forma para estar na vida. Estar com a ansiedade acaba parecendo ser a melhor escolha por uma suposta sensação de total segurança. É muito difícil para a nossa mente descartar uma possibilidade gratificante como essa, pois o que a ansiedade está nos oferecendo é o efeito do poder absoluto: eu sei tudo, eu posso tudo, eu mando em tudo.
Para a mente que está recebendo esse nível elevado de sensação gratificante, resolver a angústia que a ansiedade provoca passa a ser uma tarefa secundária. Pois, acaba sendo acentuado o sentido de possível perigo para ter que enfrentar sofrimento por uma perda maior: a perda do poder absoluto. Dessa forma, se torna necessário não apenas manter a angústia em segundo plano, mas também dela ser extraído algum bem. Suportá-la? Porque não? Se a angústia que a ansiedade nos faz sentir for resolvida, estaremos tirando a ansiedade de sua posição privilegiada. Não podendo ter o privilégio de se manifestar livremente, a satisfação de crer no nosso poder absoluto, que ela determina, será tomado de nós. No doce Romeu e Julieta é possível salvar a parte do queijo. Aqui não será. Ou seja, tudo o que a ansiedade traz com ela, será levado com ela. Para quem não consegue estar sem a ansiedade devido à parte satisfatória que ela produz na mente pode se perguntar: como ficar sem essa sensação que tanto me gratifica? Para responder a essa pergunta parece ser preciso lançar outra: porque preciso dessa fantasia? A questão interessante talvez não seja viver em função do estar livre da ansiedade, afinal de contas, a ansiedade é parte da natureza humana, mas compreendê-la para ficar sem os prejuízos que ela pode causar. 
Paz e bem! Sandra Valeriote

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